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A confiabilidade das Escrituras

Por Marlon Vargas (DVG) "Pois tudo o que foi escrito no passado, foi escrito para nos ensinar, de forma que, por meio da perseverança e...

A confiabilidade das Escrituras

Por Marlon Vargas (DVG)

"Pois tudo o que foi escrito no passado, foi escrito para nos ensinar, de forma que, por meio da perseverança e do bom animo procedentes das Escrituras, mantenhamos a nossa esperança”. (Romanos 15.4)

 

Podemos Confiar Nas Escrituras?

Tudo o que sabemos a respeito do Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, a criação do mundo, a criação do homem, o princípio e o fim da história da humanidade, a consequente criação de um novo céu e uma nova terra no Estado Eterno, encontram-se registrados na Bíblia Sagrada.  Mas será que somente os registros da Bíblia são suficientes? Podemos confiar que tudo que nela está escrito não sofreu alterações nas mãos dos diversos copistas que se encarregaram de escrever os manuscritos ao longo dos séculos que passaram? Então, antes de comentarmos qualquer texto referente aos assuntos principais defendidos neste blog (Volta de Cristo, Criação e Dilúvio), precisamos responder esta pergunta. E a resposta é: Sim! Podemos confiar nas Escrituras, e cito aqui, dois versículos bíblicos que nos dão essa certeza: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra” (2 Timóteo 3.16,17) e “Antes de mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo” (2 Pedro 1.20,21).

Desde que foi impressa, em 1455, a Bíblia tornou-se o maior best-seller da história. Uma pesquisa realizada em 1992[1], estima que foram vendidos mais de 6 bilhões de cópias da Bíblia nos últimos 200 anos, traduzida completamente para cerca de 450 línguas diferentes, e partes dela, para aproximadamente 2.000 línguas e dialetos. A Bíblia Sagrada, portanto, é também o livro mais traduzido de todos os tempos.

A Bíblia é composta por 66 livros, escritos por 40 autores diferentes em um período de cerca de 1500 anos. O Antigo Testamento, formado por 39 livros, foi escrito em épocas diferentes totalizando um período de 1000 anos (1450 a.C. – 435 a.C.) e está centrado na história anterior a Cristo, mas é rico em profecias que apontam para a vinda do Messias prometido. Não existem cópias originais do Antigo Testamento, o que temos são cópias das cópias dos textos originais. Mas isso não representa um problema. Em 1947, com a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, foram encontrados em várias cavernas das colinas do deserto da Judéia cerca de 500 rolos, sendo que 175 deles são bíblicos, cópias de vários livros do Antigo Testamento[2], com exceção do livro de Ester. Entre esses pergaminhos, foi encontrado o “conhecido como o Rolo de Isaias de São Marcos, escrito em 17 folhas de pergaminhos unidos mediante costura em seus extremos, formando um rolo de 7,5 m de comprimento por 26 cm de altura. É o maior e mais bem conservado de todos os rolos. Foi escrito com caracteres quadrados primitivos, o que, segundo o dr. Albright, o situa no século II a.C[3]”. É o manuscrito hebraico mais antigo que qualquer outro livro da Bíblia. E o que mais impressiona é a fidelidade dos textos quando os livros de Isaías das duas fontes foram comparados, revelou-se que 95% dos textos eram idênticos (5% eram diferenças referentes a ortografia, gramática e caligrafia não afetando o sentido do texto)[4].

O Novo Testamento é composto por 27 livros escritos em um período de 55 anos aproximadamente, durante o século 1. O tema central de todos os livros: a pessoa de Jesus Cristo, o Messias.

Apesar do fato dos judeus se valerem muito da tradição oral para transmitirem seus ensinamentos, era necessário escrever os relatos sobre a vida de Jesus, o qual havia sido morto por crucificação, mas ressuscitou, e assim, cumpriu todas as profecias messiânicas do Antigo Testamento (sobretudo, devido ao crescimento da igreja). Paulo foi o primeiro a perceber essa necessidade e começou a transmitir esses ensinamentos através de cartas direcionadas as diversas igrejas já estabelecidas.

O que veremos a seguir, usando Paulo como exemplo, mostram como os ensinamentos sobre a vida e obra de Jesus (ou seja, sua natureza divina, seu ministério, sua morte pelos nossos pecados, sua ressurreição, o testemunho daqueles a quem ele  apareceu após a ressurreição e sua ascensão ao céu) já estavam difundidos entre seus seguidores, no começo da igreja logo após o Pentecostes e alguns anos antes dos quatro evangelhos serem escritos.

Paulo converteu-se ao cristianismo cerca de 2 anos[5] após a crucificação de Jesus, entrou em contato com muitos dos discípulos do Senhor, inclusive os apóstolos, e assim, recebeu diversos credos da igreja cristã mais antiga como explica o dr. Craig Blomberg, no livro “Em defesa de Cristo”: “[...] esses elementos remontam ao alvorecer da igreja pouco depois da ressurreição. Os credos mais famosos são os de Filipenses 2.6-11, que fala de Jesus tendo a mesma natureza de Deus, e Colossenses 1.15-20, em que Jesus é descrito como a “imagem do Deus invisível”, que criou todas as coisas e por meio de quem todas as coisas foram reconciliadas com Deus, “estabelecendo a paz pelo seu sangue derramado na cruz”. Essas passagens sem dúvida são importantes porque mostram o tipo de crença que tinham os primeiros cristãos em relação a Jesus. Todavia, talvez o credo mais importante no que se refere ao Jesus histórico seja o de 1 Coríntios 15, em que Paulo usa uma linguagem técnica para indicar que estava transmitindo essa tradição oral de uma forma relativamente fixa[6]”. A seguir, a transcrição de 1 Coríntios 15, 3-7: “Pois o que primeiramente lhes transmiti foi o que recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia, segundo as Escrituras, e apareceu a Pedro e depois aos doze. Depois disso apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, a maiorias dos quais ainda vive, embora alguns já tenham adormecido. Depois apareceu a Tiago e, então, a todos os apóstolos; depois destes apareceu também a mim, como a um que nasceu fora de tempo”. Por que fiz questão de citar os textos acima? Para que possamos ver que os credos a respeito de Jesus se difundiram rapidamente e foram registrados em pouco menos de 20 anos após o ministério de Jesus, quando ainda vivam muitas das testemunhas oculares, diferentemente dos livros amplamente aceitos no mundo secular, que não tem a mesma quantidade  de cópias que o Novo Testamento têm, e na sua maioria, no caso as biografias, foram registradas séculos após os eventos acontecerem. Um exemplo prático, citado pelo dr. Craig Blomberg no livro Em defesa de Cristo, se refere as duas biografias mais antigas de Alexandre, o Grande, as quais foram escritas cerca de 400 anos após sua morte em 323 a.C.[7].

Estátua de mármore de
São Paulo

Entre 14 e 19 anos após sua conversão, Paulo escreveu a primeira das 13 cartas apostólicas[8] (a carta aos Hebreus, apesar de muitos historiadores como Eusébio, Orígenes e Atanásio a reconhecerem como escrita por Paulo, sua autoria permanece indefinida), dirigida a igreja de Tessalônica, no ano 51 d.C., data que a coloca antes ou pelo menos na mesma década em que Marcos escreveu o evangelho.

Já os evangelhos foram escritos por 4 autores que revelam a Pessoa de Jesus em aspectos diferentes: Mateus, apóstolo e testemunha ocular, escreve aquele que é considerado o “Evangelho do Rei dos Judeus”; Marcos, discípulo de Paulo e posteriormente de Pedro, sua fonte, é o autor do “Evangelho do grande Servo de Deus”; Lucas, o médico amado, pesquisou e escreveu o “Evangelho do Filho do Homem”, focando na humanidade de Cristo; e por fim, João, o discípulo amado, escreveu o “Evangelho do Filho de Deus”, no qual demonstra a divindade de Jesus.

Ainda compõem o Novo Testamento, Atos dos Apóstolos, escrito por Lucas (como uma sequência do Evangelho de Lucas), as cartas de Pedro, João, Tiago, Judas e o Apocalipse.

Na tabela abaixo consta as datas aproximadas da época em que os evangelhos foram escritos[9] e a seguir os demais livros do Novo Testamento em sequência por data.

 

Tabela 1

EVANGELHOS

DATAS APROXIMADAS

Marcos

Opinião 1: fim da década de 50 e início da década de 60 d.C.

Opinião 2: entre 65-70

Mateus

Opinião 1: fim da década de 50 ou na década de 60 d.C.

Opinião 2: escrito em 70 d.C.

Lucas

Opinião 1: escrito em 59-63 d.C.

Opinião 2: escrito na década de 70 d.C.

João

Conceito tradicional: por volta de 85 d.C.

Conceito recente: entre a década de 50 e 70 d.C.

Tiago

Antes de 50 ou começo de 60 d.C.

1 e 2 Tessalonicenses

51 d.C.

Gálatas

51-52 , 53-57  ou a data recuada 48-49 d.C.

Filipenses

53-55, 57-59 ou a data mais provável 61 d.C.

1 Coríntios

55d.C.

Romanos

57 d.C.

Efésios, Colossenses e Filemon

60 d.C.

Atos

Data provável 63 d.C

1 Timóteo e Tito

63-65 d.C.

2 Timóteo

66-67 d.C.

1 Pedro

Entre 60 e 67 d.C.

Judas

65 d.C.

2 Pedro

65-68 d.C.

Hebreus

70 d.C.

1, 2 e 3 João

Entre 85-95 d.C.

Apocalipse

95 d.C.

 Com esse pequeno texto, podemos reafirmar com toda certeza: Sim, podemos confiar nas Escrituras pois ela é a Palavra de Deus.

 NOTAS


[1]  LAHAYE, T.; MINASIAN, D., Jesus. Editora Thomas Nelson Brasil – Rio de Janeiro, 2009, p. 23.

[2] Os judeus consideravam sagrados 22 livros que possuem exatamente os mesmos textos que dos 39 livros que temos em nosso Antigo Testamento, mas com divisões diferentes.

[3] Bíblia Thompson, Editora Vida – Rio de Janeiro, 2010, p.1826.

[5] A Bíblia Thompson (p. 1760) situa a conversão de Paulo no ano 37 d.C., ou seja, sete anos após a crucificação de Jesus. Lembrando que as datas são aproximadas.

[7] STROBEL, L., Em defesa de Cristo. Editora Vida – São Paulo, 2017, p. 41. NOTA DO AUTOR: O dr. Craig Blomberg, cita Ariano e Plutarco como autores. Arriano (Ariano) escreveu “Anábase de Alexandre”, na primeira metade do século 2, enquanto Plutarco escreveu “A vida de Alexandre” no final do século 1. A biografia mais bem escrita de Alexandre, o Grande, está contida no livro “Vidas Comparadas”, Editora Escala, do historiador grego Plutarco, que viveu no século 1. O historiador romano Diodoro Sículo (Sicília), que viveu no 1° século a.C. escreveu sobre Alexandre cerca de 200 anos após sua morte, mas sua obra, “A história Universal”, é considerada uma compilação de fontes mais antigas.

[8] Segundo nota na Bíblia de estudos NVI, p.2049, “1 Tessalonicenses é a carta canônica mais antiga de Paulo, a não ser que se aceite a data recuada (48-49?) de Gálatas.

[9] Bíblia de estudos NVI, Editora Vida – São Paulo, 2003. NOTA DO AUTOR: As datas foram retiradas das páginas introdutórias de cada livro, com exceção dos evangelhos sinóticos (Marcos, Mateus e Lucas) p. 1609.