Por Marlon Vargas (DVG)
"Desde o início faço conhecido o fim, desde tempos remotos, o que ainda virá. Digo: Meu propósito permanecerá em pé, e farei tudo o que me agrada”. (Isaías 46.10)
Nós, por natureza, somos seres limitados, e essa limitação nos permite viver somente o presente, o aqui e agora. O que está a nossa frente é futuro e nada podemos fazer para antecipá-lo ou prevê-lo. Um segundo atrás já é passado e não tem como voltar no tempo, nem o modificar. Podemos voltar no espaço, por exemplo, visitar a escola que estudamos a primeira série, o ensino médio, a universidade e recordar aquele tempo. Mas jamais conseguiremos voltar no tempo.
O mesmo não acontece com Deus. Ele é o Eterno. Ele está
presente em todos os lugares, isso se chama Onipresença, ou seja, seu ser está
em todas as partes. Ninguém pode se esconder da presença de Deus (Salmos
139.7-11). Mas tem um lugar onde a presença de Deus se manifesta em todo seu esplendor:
o céu.
O céu
A Bíblia nos dá a entender que o céu é dividido em três
partes (2Coríntios 12.2): primeiro, segundo e terceiro céu. O primeiro é o céu
imediato, ou céu atmosférico onde estão as nuvens no qual voam as “aves dos céus” (Jó 35.11); o segundo céu é o espaço exterior onde
estão os astros, na Bíblia também chamado de “firmamento” (Gênesis 1.8,14); e o terceiro céu, é onde habita o
Deus Triúno[1], também
chamado de paraíso, lugar de
bem-aventurança e de repouso entre a morte e ressurreição dos santos (cf. Lucas
16.22; 2Corintios 12.2). É para onde vai a alma dos salvos (2Coríntios 5.8;
Filipenses 1.23; Lucas 23.43). É deste céu que descerá a “cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial”. Nesta cidade, estará
o trono de Deus e do Cordeiro, habitação de uma multidão incontável de anjos, e
nossos irmãos que já morreram e estão com Cristo, tanto os salvos da Nova Aliança,
“a igreja dos primogênitos, cujos nomes
estão escritos no céu”, como os salvos do Antigo Testamento, “os espíritos dos justos aperfeiçoados”
(Hebreus 12.22-24). Em Deuteronômio 10.14, Deus declara que a Ele “pertencem os céus e até os mais altos céus”.
É do céu que Deus exerce seu domínio sobre toda a criação.
Com um simples olhar
Com um só olhar Deus vê e acompanha todo o eixo do tempo. Deus está além do espaço/tempo |
Deus é onisciente
Entre as perfeições de Deus, ou atributos (além da
onipresença já citada), está a onisciência, o que significa que ele sabe tudo,
todas as coisas reais e possíveis. A. W. Tozer escreveu a este respeito: “[...] Como Deus conhece todas as coisas
perfeitamente, ele não conhece uma coisa melhor do que outra, mas a tudo
igualmente bem. Ele nunca descobre nada, nunca se surpreende, nunca se assusta.
Deus nunca imagina como será algo nem busca informações nem faz perguntas
(exceto quando inquire os homens para o próprio bem deles)[4]”.
Alguns versículos bíblicos confirmam esse conhecimento prévio:
― Deus conhece todas as suas obras desde o princípio (Isaías
41.26; 46.10; Atos 15.18);
― Deus conhece nossa história antes de nascermos (Jeremias
1.5; Salmos 139.16);
― Deus conhece a história e o que poderia ter acontecido sob
certas circunstâncias. Exemplos: (1) Sodoma não seria destruída se os milagres
de Cristo tivessem sido realizados nela; (2) As cidades de Tiro e Sidom teriam
se arrependido com os milagres de Cristo (leia Mateus 11.20-24);
― Deus conhece a história e toma decisões segundo a sua vontade: (1) Ele age em todas as coisas para o nosso bem: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos[5]" (Romanos 8.28,29); (2) Ele age para preservação da vida: “Se aqueles dias não fossem abreviados, ninguém sobreviveria” (Mateus 24.22a). Neste versículo, Jesus se refere a uma ação ocorrida na eternidade passada, em que Deus determinou a abreviação da Grande Tribulação a fim de evitar o extermínio da raça humana. Tomas Ice escreveu: “Jesus estava ensinado que Deus, no passado, já havia abreviado a Grande Tribulação. Ele disse isso no sentido de que, no passado, Deus tomou a decisão de interrompê-la quando chegasse determinado momento, em vez de deixar que a Grande Tribulação continuasse indefinidamente. Por Sua onisciência, Deus sabia que se a Grande Tribulação continuasse indefinidamente, toda carne pereceria na terra. Para evitar que isso acontecesse, Deus, no passado, estabeleceu um momento preciso para encerar a Grande Tribulação[6]”; (3) Ele age para a Redenção da humanidade. Deus viu a queda do homem antes da criação do mundo e que seria necessário Cristo redimir a humanidade:
"Deus conhece as suas obras desde o princípio" |
Deus no controle
Muitas pessoas podem achar que o mundo, no estado atual,
está desgovernado, largado a própria sorte. Grande engano. Os textos que lemos
acima nos mostram que Deus está no comando de tudo. Sempre esteve. A Bíblia
afirma que Deus é o Criador e sustentador do universo (Atos 17.24-28), ele tem
em suas mãos o desenrolar da história e vela pela sua palavra. A vida segue seu
curso, nem sempre segundo a vontade diretiva de Deus, mas tudo dentro da
vontade permissiva de Deus.
O fato de Deus conhecer a história antecipadamente e intervir sempre que necessário, como na queda do homem (Deus fez a propiciação pelo pecado de Adão e Eva), no dilúvio (para evitar a corrupção total da raça humana), na planície de Sinear, com a confusão das línguas (para dar um fim as rebeliões conduzidas por Ninrode[8]), na destruição de Sodoma, Gomorra e arredores (por causa do pecado grave), no Egito (para dar liberdade ao seu povo, Israel) e tantas outras no decorrer da história, de nenhuma maneira, essas intervenções afetaram o livre-arbítrio do homem[9]. As intervenções de Deus foram por causa das consequências das escolhas erradas que o homem fez. Este tem liberdade para fazer o que bem entende, e por ser intelectualmente capaz de avaliar as escolhas, é, portanto, responsável por suas consequências. Essa é a lei da semeadura e da colheita, as pessoas colhem o que plantam: “Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois tudo o que o homem semear, isso também colherá. Quem semeia para a sua carne, da carne colherá destruição; mas quem semeia para o Espírito, do Espírito colherá a vida eterna” (Gálatas 6.7,8). A lei da semeadura e da colheita existe para que possamos fazer as boas escolhas.
Mas, mesmo fazendo a pior escolha possível, Deus não abandonou Adão, nem seus descendentes. Deus sabia que Adão falharia no teste por ele imposto, mas mesmo assim decidiu criar o homem e não retirou a sua graça, mesmo após o ato de rebeldia. O fracasso humano, foi a oportunidade para Deus escrever a mais linda história de amor que se tem notícia: a história do Pai que enviou o seu Filho para salvar a joia da sua criação. Uma história que, assim como um quebra-cabeça, Deus cuidou para que cada peça se encaixasse perfeitamente.
NOTAS
[1] Merril Unger identifica o segundo céu como a habitação dos anjos e o terceiro céu, habitação do Deus Triuno. UNGER, M.; Dicionário Bíblico Unger. SBB – São Paulo, 2017, p. 236.
[2] Conforme Gênesis 1.1: “No princípio (tempo) Deus criou os céus (espaço) e a terra (matéria)”.
[3] GITT, W.; O tempo e a eternidade. Ed. Actual – Porto
Alegre, 2014, p. 46.
[4] RYRYE, C.; Teologia Básica. Ed. Mundo Cristão – São
Paulo, 2004, p.48.
[5] Transcrevo nota com explicação desse texto: “[...]
Paulo aqui se refere ao fato que, na eternidade passada, Deus conhecia os que,
pela fé, se tornariam o seu povo [...] a predestinação é para que se amoldassem
moralmente ao seu Filho, a fim de que ele
seja o primogênito entre muitos irmãos”. Bíblia de estudos NVI p. 1934.
[6] ICE, T.; Jesus e o fim dos tempos. Ed. Actual – Porto
Alegre, 2012, p.14.
[7] Grifo do autor.
[8] Ninrode (Rebelde) foi o fundador da primeira potência
imperial da história humana. Rebelião
religiosa: fundador da Babilônia, cidade descrita na Bíblia como um sistema
religioso e moral perverso. Rebelião
política: Deus ordenou que o povo se espalhasse e povoasse a terra. Ninrode
procurou manter todos juntos.
[9] Possibilidade de decidir em função da própria vontade,
sem qualquer condicionamento, motivo ou causa determinante.